PARIS, (AFP) - Uma máquina de 2100 anos cujos vestígios foram encontrados nos destroços de um navio há mais de um século revelaram-se o supercomputador celeste do mundo antigo.
Veja abaixo o video em Portugues pela agencia BBC Brasil clicando no link.
Usando tecnologia do século XXI para ver debaixo da superfície dos mecanismos, cientistas afirmam que o chamado Mecanismo de Antiquitera podia prever o balé do Sol e da lua por décadas e calcular uma anomalia lunar que assombraria o próprio Isaac Newton.
Construído na Grécia entre 150 e 100 a.C. e possivelmente relacinado com o astrônomo e matemático Hipparchos, sua complexidade provavelmente permaneceu insuperável por pelo menos mil anos, afirmam.
"É belamente projetado. Seu queixo cai quando você percebe o que eles fizeram e o que puseram nele", disse, em entrevista à AFP, o astrônomo Mike Edmunds, da Universidade Cardiff, em Gales.
A descoberta "confirma que os gregos possuíam grande sofisticação técnica", acrescentou.
O Mecanismo de Antiquitera recebeu este nome devido ao local onde foi descoberto, onde mergulhadores gregos, que exploravam um navio naufragado romano a 42 metros de profundidade, se depararam com 82 curiosos fragmentos de bronze.
A princípio, estas peças, cobertas por uma espessa crosta e unidas após permanecer mais de dois mil anos no leito do mar, permaneceram esquecidas. Mas um olhar mais atento revelou que foram fabricadas com requinte, com engrenagens talhadas a mão.
Com a descoberta, ficou claro que 29 engrenagens se encaixavam, possivelmente formando algum tipo de calendário astronômico. Por um quarto de século, a referência sobre a rara descoberta foi um trabalho escrito por um historiador especializado em ciência e tecnologia, Derek de Solla Price.
Ele levantou a hipótese de que o mecanismo na verdade tinha 31 engrenagens e fazia algo surpreendente: vinculava o ano solar com um ciclo de 19 anos das fases da Lua, o chamado ciclo Metônico.
A equipe de Edmunds, que reuniu especialistas de Grã-Bretanha, Grécia e Estados Unidos, evoluiu um pouco mais na história.
Em um artigo que será publicado na edição desta quinta-feira da revista científica britânica Nature, eles descrevem ter usado a tomografia computadorizada tridimensional por raios X e geração de imagens em alta resolução para ver além da superfície do Mecanismo, sem danificar o artefato de valor inestimável.
Assim, eles leram inscrições nos dentes de bronze que nunca foram vistas por olho humano desde que o navio romano partiu para seu trágico destino.
Eles acreditam que a peça original provavelmente tivesse 37 engrenagens e compreendesse duas faces similares a relógios, uma na frente e outra no verso, que poderia ser inserida em uma fina caixa de madeira medindo 31,5 x 19 centímetros e com a espessura de 10 centímetros.
A máquina era um calendário de 365 dias, que engenhosamente produzia o ano bissexto a cada quatro anos. Também era capaz de prever eclipses solares e lunares sob o ciclo Saros, uma interação repetitiva de 223 meses do Sol, da Terra e da Lua. Supostamente, esta função teria tido fins religiosos, visto que os eclipses são tradicionalmente interpretados como presságios.
A Máquina também era um almanaque estrelar, mostrando quando as grandes estrelas e constelações do zodíaco grego nasciam ou morriam e, especulativamente, também poderia ter mostrado a posição dos planetas.
Mais impressionante ainda é o pequeno dispositivo de pino e ranhura que decompõe uma movimentação da Lua que, por séculos, intriga os amantes da astronomia.
Nesta anomalia lunar, a Lua parece se mover pelos céus com velocidades diferentes e tempos diferentes, devido à sua órbita elíptica em torno da Terra.
"Newton costumava dizer que pensaria nisto até que sua cabeça doesse", lembra Edmunds.
Esta última descoberta faz os cientistas imaginarem se o grande Hipparchos, que desenvolveu o primeiro catálogo das estrelas e escreveu sobre a anomalia lunar no século II a.C., pode ter ajudado a projetar o mecanismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário